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Sindicatos argentinos abrem guerra salarial

BUENOS AIRES - Em recente visita oficial à Espanha, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, disse que sua prioridade número um é superar a inflação, que, segundo ele, é o principal obstáculo à economia.

 A alta do custo de vida fechou 2016 em quase 40%, e a meta para este ano é 17%, taxa que a Casa Rosada pretende impor como parâmetro nas negociações salariais coletivas. Os sindicatos, no entanto, exigem reajustes entre 25% e 35% e programam para 7 de março uma gigantesca manifestação, à qual aderirão setores da oposição, entre eles o kirchnerismo.

A tensão social é cada vez maior num país que, de acordo com a Central de Trabalhadores Argentinos (CTA), fechou 400 mil postos de trabalho no ano passado e continua perdendo centenas deles todos os meses.

— O governo Macri pretende transformar a Argentina na Indonésia, mas aqui os sindicatos são fortes, e não vamos permitir que isso aconteça — disse ao GLOBO o secretário-geral da CTA, Juan Pablo Micheli, um dos organizadores da marcha de março.

A CTA se prepara também para convocar a primeira greve geral contra o governo Macri, no poder desde dezembro de 2015. Em fevereiro, os protestos foram permanentes e criaram verdadeiro caos no trânsito portenho.

— A obsessão do presidente é captar investimentos e, para isso, ele precisa oferecer custos trabalhistas mais baixos e uma inflação sob controle. Mas não permitiremos que os trabalhadores sejam a variável de ajuste do plano econômico — enfatizou Micheli.

Hoje, os trabalhadores argentinos ganham, em média, 9 mil pesos (US$ 562,50).

BANCOS REFAZEM PROJEÇÕES


A guerra do momento é entre os sindicatos dos professores, que exigem um reajuste de 35%: o salário-base iria de 9.600 pesos (US$ 600) para 13 mil pesos (US$ 812,50). A governadora da província de Buenos Aires, Maria Eugenia Vidal, ofereceu aumento de 18%, mas a proposta foi rechaçada, e os professoras já avisaram que as aulas não começarão no dia 6 de março, como prevê o calendário oficial.

Bancos internacionais já estão revendo suas projeções para a Argentina, entre eles o BBVA, que agora calcula uma inflação de 25,9% e crescimento de 2,8% (o governo espera crescer 3%). Na opinião do economista Ramiro Castiñeira, da consultoria Econométrica, “a inflação vai começar a baixar, mas não no ritmo que espera o governo":

— Haverá uma queda de braço forte. Ainda não podemos falar numa inflação de 20%.

Está claro para todos que a expectativa para 2017 é que o reajuste dos salários supere a inflação, ao contrário do que ocorreu no ano passado. De acordo com a CTA, os trabalhadores foram os grandes perdedores de 2016.

Mas a Casa Rosada mantém o otimismo e, em sua cruzada por captar investimentos estrangeiros, não admite a possibilidade de mexer na meta de inflação.

— Vamos alcançar a meta de 17% — frisou o ministro da Fazenda, Nicolás Dujovne.

A guerra está apenas começando e promete ser longa, num ano em que Macri enfrentará seu primeiro teste eleitoral: em outubro, será renovada metade do Congresso.

Fonte: O Globo

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