A coragem, motivada pela insatisfação e pela inconformidade com a situação que vivenciam diariamente, levou cerca de 120 trabalhadores da Unidade de Serviço de Faturamento (USFA) da Sanepar em Curitiba a abandonarem seus serviços e se dirigirem à porta da unidade na manhã da última quinta-feira (28) para ficar ali, de braços cruzados - foi a maneira encontrada por eles para protestar e exigir mudanças.
Assim que soube da manifestação dos saneparianos, o presidente do Saemac Gerti José Nunes se dirigiu até a unidade que fica no bairro Prado Velho para verificar o que estava acontecendo e auxiliar os trabalhadores a encontrarem uma solução. No entanto, para fazer coro às reclamações que os leituristas e agentes de campo já haviam relatado em uma carta enviada ao presidente da Sanepar com cópia à Ouvidoria da companhia, o representante sindical foi barrado e não pode entrar na Unidade. Aliás, ele até poderia entrar, mas apenas se fosse "autorizado por Deus"...
Diante dessa 'recepção amigável' que tivemos, fomos obrigados a nos reunir com os trabalhadores do lado de fora da unidade. Ali ouvimos coisas que nos fizeram sentir que ainda estávamos na época da ditadura militar no Brasil: pressão psicológica, desrespeito, assédio moral, advertências e suspensões imotivadas, cobranças exageradas... Tudo isso ocasionado por apenas duas pessoas: o gerente da unidade, Marcos Cardoso e o coordenador administrativo, Robson Cavassin Raffo.
A solução, então, parecia simples: trocar a gerência e a coordenação da USFA. Afinal, a reclamação é generalizada e não individual. E pensar no bem coletivo é fundamental em qualquer grande empresa. Telefonamos então para o sr. Glauco Machado Requião, da diretoria da presidência da Sanepar. Explicamos a situação e ele afirmou que estaria enviando alguém para negociar com os trabalhadores e resolver o impasse.
O enviado foi o advogado e ouvidor sr. Paulo Azzolini. Pela manhã, ele esteve na USFA e conversou com os saneparianos e, dali, saiu o agendamento de uma reunião para o mesmo dia, às 14h, na sede da Companhia. Participaram desta reunião quatro representantes da USFA, que narraram aos senhores Celso Thomaz, Paulo Azzolini e Paulo Alberto Dedavid o modo como estavam sendo tratados pelos seus 'superiores'.
O presidente do Saemac também participou desta reunião e sugeriu que o gerente da USFA fosse afastado até que a situação fosse resolvida. Mas, os representantes da Sanepar recusaram de bate-pronto a proposta, afirmando que isso tira a autoridade do gerente. Ainda assim, garantiram que estariam conversando com o sr. Marcos Cardoso para que mudasse seu comportamento.
Uma nova reunião ficou marcada para a sexta-feira (1º) pela manhã na própria USFA. Aceitando o convite feito na noite anterior pelo Gerti, o coordenador de Relações do Trabalho, sr. Núncio Mannala marcou presença nesta reunião, exercendo ali o papel de ouvidor da Secretaria Estadual do Trabalho.
O clima era de muita tensão. O primeiro a discursar foi o sr. Celso Thomaz. Na sequência, o presidente do Saemac pediu a palavra e sugeriu que o pessoal voltasse ao trabalho, já que a paralisação por muito tempo poderia apenas prejudicar as negociações com a empresa e dificultar a resolução do problema. Depois, o sr. Núncio Mannala falou e, de forma efusiva, afirmou que este tipo de assédio sofrido pelos trabalhadores da USFA é um absurdo e precisa ser levado à Organização Internacional do Trabalho (OIT), e lembrou ainda que o Paraná é parceiro da OIT por ter assinado as convenções...
Inflamados pelo discurso do companheiro Núncio, diversos trabalhadores da USFA começaram a dar depoimentos chocantes e emocionantes. Um deles contou, em outras palavras, para demonstrar como a empresa 'valoriza' os trabalhadores, que ele era monitor e, num dia de muita chuva, tomou a decisão de não trabalhar e não largar o pessoal fazendo serviço de campo. Por tentar preservar os saneparianos, ele foi destituído e ouviu barbaridades do gerente!
Em meio a tantas histórias de profundo desrespeito com o sanepariano, ficava difícil conter as lágrimas. O clima era realmente de muita tristeza. Tanto é que o Núncio afirmou que estava assustado e que nunca tinha visto trabalhadores chorando desta maneira. Também garantiu que levaria tudo ao conhecimento da OIT e, num ato honroso de defesa dos trabalhadores, pediu para o gerente da unidade, que estava presente na reunião - apesar de desejar profundamente não estar - ter a humildade de pedir desculpa aos trabalhadores!
A reunião terminou com o sr. Glauco Machado assumindo o compromisso de levar à situação ao conhecimento da presidência da Sanepar para que alguma medida seja tomada.
Mas, não vamos ficar sentados, esperando que a situação se resolva. O Saemac vai mover ação coletiva de assédio moral, vai fazer denúncia para a OIT, para o Governo e para onde mais pudermos denunciar. Essa situação é absurda, inaceitável e, com certeza, não vai ficar assim! Por enquanto, os saneparianos voltaram ao trabalho. Por enquanto... Se nada for resolvido dentro de poucos dias, novas paralisações não estão descartadas!